Com foco na proteção de répteis e anfíbios ameaçados do Nordeste, o Plano de Ação Nacional (PAN) Herpetofauna entra em seu terceiro ciclo com novos desafios e metas. De 9 até a manhã de hoje (13), cerca de 70 especialistas participaram de uma oficina de planejamento na Universidade Federal do Piauí (UFPI) em Teresina, promovida pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN/ICMBio). Representando o Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga (Cemafauna), vinculado à Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), esteve presente o professor Doutor Leonardo Barros Ribeiro, especialista em Herpetofauna, responsável pela coleção de Herpetologia do Museu de Fauna da Caatinga e docente do Colegiado de Ciências Biológicas (CCBIO).
Além do professor Leonardo Ribeiro, a docente Gabriela Felix Nascimento Silva do Colegiado de Zootecnia (CZOO/Univasf), também colaboradora do Cemafauna, esteve entre os representantes da universidade, contribuindo com as discussões e estratégias traçadas. O PAN é um instrumento do governo federal para organizar e promover ações voltadas à conservação de espécies ameaçadas. Neste ciclo, o plano tem o quantitativo de 77 espécies-alvo da Herpetofauna do Nordeste, com registros de ameaça nos âmbitos nacional e/ou estadual. A oficina buscou definir os objetivos específicos, produtos, prazos e as ações a serem executadas nos próximos cinco anos, além de consolidar o grupo de colaboradores e o assessoramento técnico que irão acompanhar a implementação das atividades previstas.
Um dos grandes avanços obtidos durante a oficina foi a inclusão do lagartinho-da-areia (Nothobachia ablephara) como uma das espécies-alvo do PAN. A proposta partiu do professor Leonardo Ribeiro, que defendeu a urgência de ações voltadas a esse pequeno lagarto endêmico da Caatinga, encontrado no Campus de Ciências Agrárias da Univasf, em Petrolina (PE), e esporadicamente avistado. A espécie, com pouco mais de 6 cm de comprimento, é adaptada aos solos arenosos e à vida parcialmente subterrânea. Sua morfologia única, com membros reduzidos, coloração bege/dourada e ausência de pálpebras e ouvido externo, a torna altamente especializada, mas também vulnerável a distúrbios ambientais. Atualmente, o lagartinho-da-areia é classificado como ‘Vulnerável’ na Bahia e ‘Em Perigo’ em Pernambuco. As principais ameaças à espécie incluem mineração de areia, implantação de parques eólicos e solares, turismo desordenado e expansão urbana e agrícola. Estudos recentes indicam que, com as mudanças climáticas, a espécie poderá perder áreas com condições climáticas adequadas à sua sobrevivência, o que reforça a necessidade de ações urgentes.
Com sua inclusão oficial no PAN, o lagartinho-da-areia passa a contar com medidas específicas para mitigação de impactos e recuperação de habitat, ampliando as chances de conservação efetiva. “A inclusão do Nothobachia ablephara no PAN é um marco importante para a conservação da biodiversidade da Caatinga. Essa espécie, apesar de discreta e pouco conhecida, é um indicativo claro da fragilidade dos ambientes arenosos do bioma. É nosso dever, como pesquisadores e instituições comprometidas com a fauna brasileira, garantir que essas espécies invisíveis aos olhos da maioria também tenham seu lugar protegido na natureza”, destacou o professor Leonardo Ribeiro.
Com vigência para os próximos cinco anos, o novo ciclo do PAN Herpetofauna do Nordeste será oficializado por meio de Portaria do ICMBio e representará mais um passo estratégico na construção de políticas públicas voltadas à proteção da biodiversidade brasileira, sobretudo em ecossistemas singulares como a Caatinga, que abriga espécies únicas e ameaçadas, como o lagartinho-da-areia.