A Polícia Federal (PF) investiga um amplo esquema de fraudes contra aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que envolve empresas de call center, corretoras de seguros, consultorias e entidades sindicais. O objetivo da organização era controlar todo o processo, desde o cadastro dos beneficiários até a manipulação de queixas, funcionando como um falso Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) para abafar denúncias.
Segundo relatório da PF, os call centers Callvox Contact Center e ACDS Call Center (Truetrust), ambos sediados em Brasília, estão entre as empresas investigadas. As duas têm em comum o empresário Domingos Sávio de Castro, que também é sócio de Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “careca do INSS”, apontado como uma das peças-chave no esquema. As empresas chegaram a empregar centenas de funcionários, muitos contratados no final de 2023, período em que houve aumento expressivo nos relatos de descontos indevidos.
As investigações revelam a atuação coordenada de entidades como a Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (CBPA), a Associação Brasileira dos Contribuintes do Regime Geral de Previdência Social (Abrasprev) e a Associação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas da Nação (Abapen). A CBPA, que até 2022 não realizava descontos, passou a figurar entre as entidades com maior arrecadação em 2023, chegando a R$ 57,8 milhões em mensalidades.
Apesar de citadas pela PF, Abrasprev e Abapen ficaram de fora da ação judicial movida pela Advocacia-Geral da União (AGU), que pediu o bloqueio de R$ 2,56 bilhões de 12 entidades suspeitas de pagar propina a diretores do INSS ou atuarem como organizações de fachada. A CBPA, no entanto, foi incluída na ação.
A AGU informou que a medida cautelar foi baseada nas investigações da Operação “Sem Desconto”, conduzida em parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU), e que outras ações judiciais poderão ser movidas à medida que a apuração avance.
A atuação das empresas dificultava que aposentados e pensionistas identificassem e questionassem os descontos irregulares. Dados obtidos pela CNN junto à CGU mostram ao menos 553 registros de reclamações sobre descontos indevidos desde 2022, via Lei de Acesso à Informação. Mesmo diante desses relatos, o INSS minimizou as denúncias e não adotou medidas eficazes para conter o problema.
Fonte CNN