Uma onda de pânico se intensificou nos mercados globais nesta quarta-feira (9), após entrarem em vigor as novas tarifas de importação impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que cumpre seu segundo mandato desde janeiro de 2025. A medida, que afeta principalmente produtos chineses com alíquotas de até 104%, foi destaque na cobertura da agência Reuters, que documentou os efeitos devastadores sobre os mercados financeiros internacionais.
As chamadas tarifas “recíprocas” afetam também bens da União Europeia e sinalizam uma radicalização da guerra comercial travada por Trump. O impacto foi imediato: ações despencaram, títulos soberanos foram vendidos em massa e moedas consideradas porto seguro — como o franco suíço e o iene japonês — ganharam força diante do dólar. Investidores correram para ativos de menor risco em meio a um clima de forte aversão ao risco.
Caos nas bolsas e nos títulos dos EUA
O índice pan-europeu STOXX 600 recuou 2,5%, enquanto o DAX alemão caiu 2,1%. Em Wall Street, o S&P 500 entrou oficialmente em mercado de baixa, com perdas de quase 20% em relação ao seu último pico, sinalizando uma destruição de valor que já soma trilhões de dólares.
No mercado de renda fixa, o colapso foi ainda mais severo: o rendimento do título do Tesouro norte-americano de 10 anos disparou 40 pontos-base em apenas três dias, alcançando 4,4%, um movimento de venda considerado um dos mais agressivos dos últimos 25 anos. “Isso está além dos fundamentos. É uma questão de liquidez”, afirmou Jack Chambers, estrategista do ANZ, sediado em Sydney.
China reage e denuncia “bullying econômico”
Em resposta à nova rodada de tarifas, o Ministério do Comércio da China divulgou um comunicado contundente: “A China não quer uma guerra comercial, mas jamais permitirá que os direitos e interesses legítimos do povo chinês sejam prejudicados”. A declaração acompanhou um livro branco publicado pelo Escritório de Informação do Conselho de Estado, no qual o governo chinês acusa os EUA de praticarem “unilateralismo clássico, protecionismo e bullying econômico”.
Fontes do governo chinês informaram que uma reunião de alto nível foi convocada para discutir medidas de estímulo ao consumo interno e à estabilização dos mercados de capitais. Entre as opções na mesa estão incentivos fiscais às exportações e ações diretas para apoiar empresas afetadas pela medida de Washington.
Europa em estado de alerta: risco de recessão
Na Europa, a inquietação é crescente. O ministro das Finanças da Alemanha, Joerg Kukies, alertou para o risco de nova recessão: “A maior economia da Europa está vulnerável a choques externos, e os recentes aumentos tarifários nos setores automotivo e metalúrgico já causam preocupação”, disse.
O setor empresarial também reage. A fabricante de motores Deutz informou que repassará integralmente as tarifas aos clientes norte-americanos. “Tudo será transferido aos consumidores”, afirmou o CEO Sebastian Schulte. Segundo ele, concorrentes da empresa têm produção fora dos EUA, o que torna inevitável o ajuste de preços.
Nos bastidores da política econômica americana, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, revelou que a prioridade do governo é reduzir os juros dos títulos de 10 anos. Embora Trump tenha descrito as tarifas como “permanentes”, ele também insinuou que elas podem ser um instrumento de negociação: “As tarifas estão pressionando outros líderes a virem até nós negociar”, declarou.
Essa postura ambígua tem gerado insegurança nos mercados. Desde o anúncio inicial das tarifas, em 2 de abril, o rendimento dos Treasuries alternou momentos de queda e forte alta. O recado, no entanto, parece claro: a administração Trump está disposta a sacrificar o desempenho da bolsa em prol de uma estratégia comercial agressiva — e de juros mais baixos para financiar a dívida pública.
“Choque estagflacionário”, alerta o BCE
O alerta mais contundente veio do membro do Banco Central Europeu Klaas Knot. “Com o tempo, uma guerra comercial se transforma em um choque negativo de oferta. É um choque estagflacionário”, afirmou em conferência em Amsterdã. A combinação de crescimento estagnado com inflação elevada representa o pior cenário possível para a política monetária, que já enfrenta limitações diante de juros historicamente baixos.
A nova escalada tarifária de Donald Trump mergulha o mundo num cenário de incertezas, com impactos diretos sobre comércio, crescimento e estabilidade financeira. Ao dobrar a aposta na guerra comercial com a China e mirar também parceiros europeus, o presidente dos Estados Unidos desafia décadas de integração econômica global. A aposta é arriscada — e os mercados, como se vê, já começaram a cobrar o preço.
Fonte Agencia Rauters