A guerra comercial lançada pelos Estados Unidos pode abrir algumas oportunidades de exportações de commodities agrícolas do Brasil para a China, embora o espaço para isso seja limitado. O redirecionamento de produtos manufaturados chineses do mercado americano para o restante do mundo pode prejudicar alguns setores industriais brasileiros, mas esse impacto também é restrito.
“As commodities brasileiras já se beneficiam com as tarifas impostas até o momento”, analisa Marcos Caramuru, ex-embaixador em Pequim, ex-executivo em Xangai e consultor no Rio de negócios com a China. “Não acho que tarifas mais altas sobre grãos ou proteínas farão diferença para nós neste momento. Mas mostrarão uma China mais combativa e isso é o que os chineses querem mostrar.”
“É possível que o mundo sofra uma nova invasão de manufaturados chineses”, admite Caramuru, que também foi cônsul-geral em Xangai, e viveu 12 anos na China. “Enquanto o consumo na China estiver baixo, os chineses precisarão exportar para manter o crescimento.”
O consultor observa que a indústria brasileira tem se defendido com a abertura de processos antidumping. “Acho que isso vai continuar”, prevê ele. “A China poderá reclamar, mas não terá muito o que fazer para nos desestimular (a adotar essas ações) antidumping.”
O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang, está mais otimista com relação à abertura de oportunidades de exportações brasileiras para o mercado chinês. “É uma bonanza para o Brasil”, diz Tang, de origem chinesa. “No primeiro mandato dele (Donald Trump) o Brasil vendeu 90% a mais de soja e 25% a mais de outras proteínas para a China”.
Quanto aos manufaturados, Tang também vê oportunidade: “Os chineses vão querer fabricar mais fora da China para exportar para os EUA”.
“Os EUA são concorrentes diretos do Brasil na exportação de commodities para a China, e com a taxação o Brasil ganha espaço a curto prazo para exportar mais. Não sei quanto espaço”, avalia José Ricardo dos Santos Luz Jr., CEO do Lide China.
“A curto prazo, o Brasil, taxado a 10%, exceto aço, açúcar, sapato e outros com distintas taxações, pode ser beneficiado, pois commodities brasileiras serão alternativa para os chineses”, continua o especialista. “Do meu ponto de vista há, no curto prazo, possibilidade de incremento das relações comerciais bilaterais sino-brasileiras e o aumento de IED (investimentos estrangeiro direto) chinês no Brasil.”
Quanto ao risco de inundação de manufaturados chineses, Luz acredita que depende do setor. A indústria têxtil brasileira, por exemplo, não consegue competir com a chinesa. “Por outro lado, a China e o Brasil são economias complementares, e muita coisa que o Brasil importa da China não é produzida aqui.”