O ex-presidente Jair Bolsonaro poderá ter seus bens bloqueados por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em razão do financiamento das atividades de seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), nos Estados Unidos. A possibilidade está sendo considerada por ministros da Corte após declarações públicas nas quais o próprio Bolsonaro admite bancar a estadia e as ações políticas do filho no exterior. A informação foi revelada por Mônica Bergamo, em sua coluna na Folha de S.Paulo nesta terça-feira (28).
De acordo com a reportagem, o ex-ministro do Turismo Gilson Machado afirmou que Bolsonaro já utilizou R$ 8 milhões dos R$ 17 milhões arrecadados anteriormente por meio de doações populares. Parte desse valor teria sido enviada a Eduardo, que se encontra nos EUA com o objetivo declarado de influenciar o governo de Donald Trump a adotar sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF. “Não é barato morar nos EUA”, justificou Machado ao relançar uma vaquinha virtual para ajudar o ex-presidente.
Em declaração pública, Bolsonaro confirmou o apoio financeiro ao filho: “Estou bancando as despesas dele agora. Se não fosse o PIX, eu não teria como bancar essa despesa, ele está sem salário e fazendo o seu trabalho de interlocução com autoridades no exterior. O que queremos é garantir a nossa democracia, não queremos um Judiciário parcial”, disse.
Para integrantes do STF, a fala é interpretada como uma admissão de que Bolsonaro participa do financiamento de ações que podem configurar crimes como coação no curso do processo, obstrução de investigação e tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito — todos sob investigação envolvendo Eduardo.
No pedido formal encaminhado ao STF para abertura de inquérito contra o deputado, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, solicitou que Jair Bolsonaro seja ouvido, “dada a circunstância de ser diretamente beneficiado pela conduta descrita [os atos do filho contra o STF nos EUA] e [por] já haver declarado ser o responsável financeiro pela manutenção do sr. Eduardo Bolsonaro em território americano”.
O procurador também indicou que novas medidas poderão ser adotadas conforme a evolução dos fatos. “Sem embargo de outras, até de índole cautelar, que o desenvolvimento dos acontecimentos possa recomendar”, escreveu. Segundo um magistrado ouvido pela coluna, uma dessas medidas pode ser a decretação de prisão preventiva do ex-presidente.
Nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro vem dando declarações em tom de confronto. Em entrevista ao influencer Paulo Figueiredo, ele comparou sua situação à de exilados políticos perseguidos por regimes autoritários. “Ao intimar meu pai, Alexandre de Moraes está indo para cima dos familiares dos exilados, como ocorre quando o pessoal sai de Cuba, sai da Venezuela e sai da Coreia do Norte”, afirmou.
A atuação internacional de Eduardo, no entanto, tem sido vista por autoridades brasileiras como uma tentativa de deslegitimar o Judiciário e interferir em investigações em curso. A eventual conexão financeira com seu pai, agora documentada por falas públicas, amplia o alcance das apurações e pode gerar novos desdobramentos jurídicos.
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